É bom reler os textos sobre cocriação e co-investigação linkadas abaixo:
Configurando ambientes de cocriação interativa
Configurando ambientes abertos de co-investigação
Também é interessante ver alguns exemplos de cocriação:
Exemplos de processos de cocriação interativa
Exemplos de processos de cocriação interativa (2)
Não organize salas de aula.
Não aloque nesses ambientes um professor para atuar como professor e, nem mesmo, um professor-orientador para atuar como professor-orientador.
Não separe um corpo docente de um corpo discente (o que significa que professores e pesquisadores serão sempre bem-vindos: como cocriadores e co-investigadores).
Não estabeleça temas obrigatórios para a criação ou para a investigação (um ou vários temas podem ser sugeridos, mas eles não podem ser obrigatório).
Não erija barreiras (físicas ou virtuais) de entrada e saída (a não ser quando o ambiente for parte de um negócio).
Não estabeleça permissões diferenciadas de acesso aos espaços e às atividades baseadas em idade ou seriação (a não ser quando isso ameace a vida de crianças, jovens ou idosos ou de qualquer pessoa, mesmo adulta, que desconheça as regras mínimas de segurança em cada caso).
Não permita que se instalem privilégios meritocráticos (do tipo quem sabe mais, pode mais; ou do tipo: quem tem um currículo mais “gordo” tem atributos regulatórios aumentativos sobre o ambiente em relação aos que têm um currículo mais “magro”).
Não imponha aos cocriadores e co-investigadores metas ou resultados esperados (na criação e na inovação tudo é feito para que surjam resultados inesperados).
Não faça avaliações e seleções vinculadas à qualquer promoção, baseadas em testes, provas, trabalhos obrigatórios, concursos competitivos, nada disso.
Não comande, não controle, não lidere e, por fim, não ensine.
SUGESTÃO DE PASSO-A-PASSO
Passo 1 | Converse com seus amigos, co-empreendedores ou pessoas da sua organização sobre o projeto. É importante ter sempre um conjunto de sponsors internos que serão os padrinhos da iniciativa.
Passo 2 | Faça uma chamada para convocar netweavers e catalisadores de processos de investigação-aprendizagem. Explique para essas pessoas quais são os papeis que elas vão desempenhar e veja se elas confirmam a sua disposição de colaborar. O número de netweavers e de catalisadores depende do tamanho do público a ser alcançado. No mínimo três netweavers e três catalisadores são necessários para começar. O ideal é ter um netweaver para cada mesa cocriativa e um catalisador para cada open lab.
Passo 3 | Capacite os netweavers e os catalisadores dos processos de investigação-aprendizagem e conecte-os numa plataforma interativa virtual (pode ser um grupo secreto ou fechado do Facebook ou de qualquer outra plataforma interativa).
Passo 4 | Configure o ambiente físico. É bom contar com os netweavers e os catalisadores. Várias sugestões de configuração física já foram apresentadas durante a mentoria.
Passo 5 | Configure o ambiente virtual. Aqui também é bom contar com os netweavers e os catalisadores.
Passo 6 | Configure o ambiente social. Isso exige o funcionamento (em versão beta) do processo com os netweavers, os catalisadores e alguns convidados durante algum tempo (em geral 5 sessões).
Passo 7 | Faça um lançamento da iniciativa – inauguração do espaço – para todo o público potencialmente interessado (e a partir daí “deixe a porta permanente aberta”: as pessoas devem se apropriar dos ambientes).
EPÍLOGO
Estamos vivendo agora a transição para a sociedade-rede ou o estilhaçamento do mundo único hierárquico em múltiplos mundos altamente conectados segundo um padrão cada vez mais distribuído do que centralizado, que aponta, inegavelmente, para uma democratização (no sentido “forte” do conceito) das sociedades.
Neste momento de transição, a grande tentação dos chamados “educadores” é pegar a onda dos novos processos interativos, que já começam a se manifestar, para melhorar a escola, tentar complementá-la ou modernizá-la montando uma escola dita “alternativa” ou “nova”. Ou para organizar uma “universidade do futuro”, uma “universidade da sustentabilidade” ou da “singularidade”, uma “universidade aberta” ou do “livre pensamento” – o que for. Todas essas tentativas tendem a reproduzir a velha escola e a velha universidade.
Maquiagens e alterações de denominações nada mudarão. Uma escola que recebeu um novo nome será uma escola com novo nome. Uma universidade diferente continuará sendo uma universidade.
Mesmo se mudarmos as denominações dos atores, nada acontecerá. Professores continuarão sendo professores quando chamados de facilitadores, tutores, catalisadores ou animadores – se o padrão de ensino for mantido. E alunos não deixarão de ser alunos só porque passamos a batizá-los de aprendentes, participantes ou interagentes do processo de aprendizagem – se o fluxo da aprendizagem tiver que escorrer por um caminho pré-cursado. Desde que permaneça a relação professor-aluno, com estes ou outros nomes, permanecerá a escola.
Introdução de tecnologias de ponta – como a utilização de um computador conectado por aluno em sala de aula ou à distância ou a adoção generalizada de mídias sociais (do tipo: “Todo mundo agora fazendo exercícios e provas no Facebook”) – e outras tentativas de aggiornarmento que mantenham a relação vertical fundante da escola, nada mudarão.
Sim, a escola é o problema. Se a universidade não fosse uma escola (como burocracia do ensinamento), não haveria metade do problema (a outra metade do problema diz respeito à supervivência de uma corporação sacerdotal que valida o conhecimento e impõe normas ao acesso e à geração de conhecimento válido). Se a universidade fosse uma rede transdisciplinar (ou, a rigor, não-disciplinar) de pesquisa onde os pesquisadores fossem livres para se associar uns aos outros e para traçar seus próprios caminhos de pesquisa – aprendendo enquanto pesquisam – não haveria problema. Acontece que ela – a universidade – é, fundamentalmente, escola (em duplo sentido: como burocracia do ensinamento e como centro disciplinador de fluxos para impedir ou restringir a livre invenção).
Ocorre que estamos descobrindo que proteger as pessoas da experiência da livre aprendizagem (a escola como estrutura centralizada de ensino) e protegê-las da experiência da livre invenção (a escola como centro autorizador de conhecimento válido e de processos capazes de gerar conhecimento válido) é a mesma coisa. Como essas relações são transitivas, o inverso também é verdadeiro: livre-invenção é aprendizagem e livre-aprendizagem é desensino.
Mas o que fazer então? Como podemos substituir essa instituição milenar (a escola) e, consequentemente, esse seu espichamento vertical corporativo secular (a universidade)?
Substituir, stricto sensu, não podemos. E não podemos nem adivinhar o que virá porque o que virá não será uma coisa, uma instituição, um tipo de organização e sim expressões de novos processos, múltiplos e diversos. Serão novas constelações de miríades de processos. Na verdade não se trata de substituir. Transição não é substituição. Não há – nem deve haver – nada para colocar no lugar da escola e da universidade.
Isso significa que não há um modelo. Nos Highly Connected Worlds do terceiro milênio não haverá mais uma instituição universal para ser espelhada e replicada em todas as sociedades como se todas fossem a mesma sociedade. Serão muitos processos – multiversais – em constituição. Como não levaremos mais a sério as abstrações regressivas e cognatas chamadas de “a sociedade” e “a educação”, cada sociosfera que se conformar terá os seus modelos de multiversidade.
Mais uma vez, em determinadas condições e dentro de certos limites, acontecerá o que formos capazes de imaginar.
A PROPOSTA DO ALÉM DA ESCOLA (BEYOND SCHOOL)
Veja a apresentação na sessão final (coletiva) da mentoria Como configurar ambientes inovadores de aprendizagem.