Tolstoi e a anti-pedagogia: uma proposta de educação libertária

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Tolstoi e a anti-pedagogia: uma proposta de educação libertária

Tolstoi e a anti-pedagogia: uma proposta de educação libertária

Dora INCONTRI, Revista da Faculdade de Educação (USP), jan/dez 1991

Todos conhecem o romancista Léon Tolstoi. Poucos estudam o pensador anarquista, que se debruçou sobre temas políticos, religiosos, sociais e estéticos, com a fúria de um profeta e a acuidade de um gênio. Seus escritos nesse campo – somando algo em torno de 30 obras, ao longo dos seus últimos 30 anos de vida (morreu aos 82 anos em 1910) – não foram, na sua maioria, reeditados em parte alguma do mundo. Permanecem dormindo nas bibliotecas, em edições francesas, inglesas e alemãs do final do século passado e do começo deste. As ideias contidas nesses livros foram um importante fermento revolucionário na Rússia pre-socialista (apesar de seu caráter absolutamente não violento) e ao mesmo tempo fonte de inspiração para a doutrina da resistência passiva de Gandhi – que aliás chegou a trocar correspondência com Tolstoi. Se o anarquista é pouco conhecido atualmente, ainda mais incógnito permanece o educador. Por isso, seria bastante oportuno lançar um olhar sobre algumas das anti-teorias pedagógicas de Tolstoi, descritas sobretudo em duas obras L’école de Yasnaia Poliana (A escola de Iasnaia Poliana) e La liberte dans l’école  (A liberdade na escola) (1). Torna-se, no entanto, impossível analisar esse aspecto de seu pensamento, desvinculando-o da cosmovisão que, a contragosto do autor, foi apelidada de “tolstoísmo” (2).

Todas as obras não-literárias de Tolstoi têm em comum a ojeriza à teoria. Não são tratados filosóficos complicados, não inventam terminologia própria, não requerem profunda exegese. O pensador adota o mesmo estilo claro e límpido do escritor. Derrama as ideias com lucidez, argumenta com precisão, e por isso mesmo dificilmente permite releituras, interpretações diversas. Fala o que fala. Qualquer leitor pode alcançá-lo. Isso não reduz seus textos à mediocridade. Ao contrário: a originalidade do seu pensamento se deve sobretudo às perspectivas inéditas na análise dos problemas humanos e à simplicidade com que exprime esses ângulos novos. Para usar uma imagem moderna, às vezes, têm-se a impressão de se estar em contato com um pensamento alienígena, tão inabituais são as colocações de Tolstoi. Ele de fato, subiu a uma montanha, onde ninguém havia estado antes, e de lá avistou a realidade de uma forma imprevista. Pode-se, é claro, identificar uma ou outra raiz do seu discurso. Mas Tolstoi é antes de tudo Tolstoi. Igualmente quando se refere aos problemas pedagógicos, ele não teoriza, não dogmatiza. Ao contrário, pretende abolir toda complexidade ideológica, para enxergar a educação do ponto de vista da criança.

Muitos dos seus contemporâneos, principalmente os ami¬gos literatos, lamentaram o fato de Tolstoi ter trocado a arte pela filosofia, a sondagem da realidade psicológica dos personagens pela busca de soluções existenciais, para si mesmo e para a humanidade. Mas Stefan Zweig já demonstrou, com grande maestria, que Tolstoi não se tornou filósofo pelo prazer de pensar, e sim por necessidade compulsória interna de achar resposta pessoais, que acabaram se tornando universais. “À sua revelia – diz Zweig – a pergunta primitiva: ‘Que erro havia na minha vida?’ cresce até se converter na pergunta geral: ‘Que erro há na vida de todos nós?’ e logo se transforma numa critica do tempo, numa crítica do presente.” (3). Vou mais longe: essas questões sempre estiveram presentes no homem Tolstoi. A crise existencial que o assolou a partir de 1872, levando-o à procura de respostas mais concretas, foi o ponto culminante de um processo longamente amadurecido. Pode-se bem notar isto em seus diários. Desde os tempos da Universidade, o jovem conde se preocupa com o auto-aperfeiçoamento, com a ideia de Deus, com os problemas sociais… E a maior prova de que não existe de fato uma ruptura absoluta entre as duas fases do escritor e do filósofo, está no educador. Os textos desses dois livros – L’école de Yasnaia Poliana e La liberté dans I’école – datam de 1862. Sao portanto anteriores ao “boom” filosófico de Tolstoi, mas já anunciam plenamente suas tendências ideológicas. Em todos os livros da última fase, o escritor disseca a sociedade, colocando a nu, em cores fortes e linguagem seca, distorções morais, históricas e políticas da humanidade. Ao contrário, em L’école de Yasnaia Poliana, Tolstoi narra uma experiência: a sua tentativa, até certo ponto bem sucedida, de uma escola nos domínios de lasnaia Poliana. (As terras herdadas de seus antepassados, que Tolstoi queria mais tarde desesperadamente socializar, apesar da ferrenha oposição de sua esposa e familiares.) Ao narrar a experiência, aparecem os talentos do escritor em páginas muito poéticas e, no exercício do educador, está embutida grande penetração na psicologia humana – no caso, a psicologia dos alunos.

À parte os apetrechos especialmente agradáveis do livro L’école de Yasnaia Paliana, a proposta de Tolstoi está inteiramente inserida na ebulição filosófica que se projetará dez anos mais tarde. Antes mesmo de rejeitar aos quatro ventos a ordem social vigente, lançar raios sobre toda forma de poder (do Estado, das igrejas, das elites intelectuais) sua escola já está na vanguarda absoluta da época e contém propostas libertárias radicais até mesmo para os padrões de hoje. A visão educacional de Tolstoi não nasce apenas da empatia com as crianças (a empatia é um elemento essencial do seu diálogo com elas). Mas é também concebida como uma das faces de sua paixão pela liberdade e pela salvação do mundo – paixão que tomará maior fôlego nas últimas décadas de sua vida. O ideal de libertar a criança de todos os jugos que a escola e os adultos lhe impõem é irmão do ideal de libertar os operários dos patrões, os súditos dos estados, os crentes das igrejas. Veremos que o escritor russo não excluirá ninguém de sua proposta libertária. Diferentemente dos marxistas, duramente criticados por ele, Tolstoi não quer apenas a redenção da classe trabalhadora. Quer a redenção da humanidade. E as crianças – essa classe tão adorável da sociedade humana – foram das primeiras a serem lembradas pelo seu humanismo.

A REJEIÇÃO DOS SISTEMAS

Cronologicamente falando, antes de dar início às suas atividades pedagógicas em Iasnaia Poliana, Tolstoi fez uma longa viagem pela Europa, à procura de ideias educacionais para o seu projeto. Visitou a França, a Alemanha, a Suíça – entre outros (4). Entrou nas escolas, conversou com alunos e professores, discutiu com pedagogos famosos como Diesterweg, penetrou nos sistemas pedagógicos de Pestalozzi e Froebel (esteve em contato com o sobrinho deste), andou no meio do povo, auscultando-lhe as reações, os conhecimentos, os gostos, as opiniões… Leu tratados e observou a realidade. Não ficou na superfície das estatísticas governamentais, não se entusiasmou pelos maciços sistemas pedagógicos alemães. Olhou as crianças e teve o cuidado de verificar se elas estavam felizes e o que de fato aprendiam na escola. Aqui, Tolstoi usou o mesmo processo que aplicaria mais tarde na análise dos rituais e dos dogmas da Igreja Ortodoxa e das religiões institucionalizadas: o processa de “estranhamento”. Colocou-se fora da perspectiva habitual, não olhou as escolas como adulto, não ficou na abstração das teorias: “estranhou” a realidade, para apreendê-la sob um prisma novo – o prisma das crianças. E foi capaz de constatar o seguinte:

“As escolas lhes parecem (às crianças) estabelecimentos criados para o seu suplício – e onde se lhes priva de seu prazer principal, de sua necessidade mais importante – o movimento livre; onde Gehorsam (obediência) e Ruhe (tranquilidade) são condições primeiras; onde para se sair uma hora, é preciso uma autorização especial, onde cada delito é punido ou por reguadas – se bem que as punições físicas estejam oficialmente abolidas – ou pelo prolongamento de sua permanência na escola, o suplício mais cruel para uma criança.

A criança vê na escola, com toda razão, um estabelecimento onde lhe ensinam coisas que ninguém compreende; onde a forçam, na maior parte do tempo, a falar uma língua estrangeira e não sua língua materna, seu patoá; onde o professor considera os alunos, o mais das vezes, como seus inimigos inatos, que pela maldade dos pais, se recusam a aprender o que ele mesmo aprendeu; e onde os alunos, de sua parte, olham o professor como um adversário que, por sua maldade pessoal, lhes força a aprender coisas tão difíceis.” (5)

Seu estranhamento, porém, não se restringe à visão infantil; alarga-se na perspectiva popular, enxergando na educação, um instrumento de moldagem que as elites e o governo usam largamente. Não se pode separar em Tolstoi, a critica pedagógica da crítica política. A atitude de Tolstoi, em 1862, não deixa de ser extremamente avançada para a época. A luta que se efetuava então, como conta a história da Pedagogia, era a do ensino laico. Pretendia-se desatrelar a Educação do poder religioso. Anunciava-se com ímpeto as vantagens da escola pública. Tolstoi faz coro na condenação à escola dogmática medieval, mas, ao contrário de seus contemporâneos, já enxerga a apropriação da escola pelo Estado e denuncia a violência e a injustiça dessa apropriação. Considera-a nociva ao indivíduo e á população como um todo. Aí estão os germes de seu anarquismo futuro. Na ocasião, Tolstoi ainda não havia escrito todas aquelas obras, onde o Estado apareceria como o grande empecilho à paz, à felicidade e ao progresso da humanidade. Mas já não reconhecia o direito de nenhuma ideologia ou instituição se arvorar em modeladora da consciência infantil e consequentemente da consciência popular.

Colocava-se não apenas no lugar da criança-criança, mas da criança-povo. O ensino havia se tornado obrigatório em alguns países da Europa. Esse era o maior avanço que ideólogos da Educação popular podiam sonhar; escola gratuita e obrigatória para todos (6). Mas Tolstoi questiona essa obrigatoriedade. Se era obrigatória, é porque os alunos não gostavam de frequentá-la. Se não gostavam, seria por culpa de sua ignorância? A resposta do aristocrata Tolstoi é a menos elitista possível:

“…longe de querer acusar a ignorância do povo que não gosta da nossa instrução, é a nós mesmos que devemos taxar de ignorância e de orgulho, se pretendemos instruir o povo à nossa moda.

Cessemos, pois, de considerar a resistência do povo à nossa instrução como elemento inimigo da pedagogia; vejamos nela, ao contrário, a expressão dos desejos populares, e só eles devem guiar a nossa ação. Reconheçamos enfim esta lei ditada tão claramente, seja pela história da pedagogia, seja pela história inteira da instrução: para permitir àquele que instrui saber o que é bom e o que é ruim, aquele que se instrui deve ter inteiro poder de exprimir seu descontentamento, ou pelo menos de virar as costas a uma instrução que não o satisfaz; há apenas um único critério de pedagogia – a liberdade.” (7).

Ao criticar os sistemas estrangeiros de educação, Tolstoi previa a possibilidade de realizar na Rússia de então uma expe¬riência pedagógica inovadora. Decididamente, sua postura não era a de reivindicar do governo a abertura de escolas públicas obrigatórias. Se tivesse partilhado do tipo de idealismo dos homens de elite dos outros países, ele decerto teria se engajado em algum cargo público. Como membro da aristocracia russa e como celebridade das letras, não lhe teria sido difícil arranjar um cargo na administração czarista, de onde pudesse fomentar a educação pública. Tolstoi, antes do teórico anarquista, já se mostrava o homem anárquico, se assim posso me expressar. Acreditava nas iniciativas individuais e comunitárias – e não governamentais – para a mudança social. A escola de Iasnaia Poliana seria a sua experiência, a sua contribuição.

Não se pode, por outro lado, desconectar essa postura do contexto histórico em que vivia (8). A Rússia czarista fazia guerra aberta à instrução popular. O Estado tomava conta das escolas, impunha restrições rígidas, limitava de maneira brutal a liberdade nas universidades. Justamente entre 1856 e 1869, reinou urna certa calmaria, pelas medidas mais liberais adotadas pelo czar Alexandre II (9). Não é de se espantar que a experiência pedagógica de Tolstoi apareça bem nesse período. E mais: provavelmente o fato de pertencer à aristocracia lhe dava a imunidade necessária para ter certa independência. (Se bem que, segundo Jean-Claude Filloux, uma das razões da interrupção da experiência de Iasnaia Poliana, foi justamente a pressão do Ministério do Interior sobre as escolas.) Está aí um dos nós do conflito que Tolstoi levou para o túmulo: a posição que ocupava na sociedade lhe dava acesso a toda cultura, a toda liberdade de ação, a toda autonomia intelectual. Ninguém podia se opor à uma experiência pedagógica do conde Tolstoi. Mas, paradoxalmente, ele usa de seus privilégios, para negá-los. Usa da liberdade própria de sua classe, para denunciar a estrutura de classes e advogar a abolição de todos os direitos aristocráticos. Desperta polêmicas, oposições, mas não chega a sofrer perseguições políticas e mesmo policiais da máquina czarista. Sua condição social só não o salvou da excomunhão que a igreja Ortodoxa lhe imporia anos mais tarde, peia sua concepção religiosa sui-generis.

De observação em observação, primeiro da posição incômoda do aluno na escola (constatadamente um aprendiz mecânico de fórmulas inúteis e incompreensíveis), da posição comodista do professor (adotando sistemas prontos, e impondo-os através da coação e da disciplina), depois das instituições e das ideologias (religiosas e/ou estatais), apoderando-se do sistema educacional, Tolstoi vai pouco a pouco chegando a um radicalismo inédito até então. Nega ao adulto, às gerações antigas, o direito de “educar” (10) as crianças, de moldá-las segundo suas concepções. Nega qualquer critério pedagógico universal, seja ele biológico, político, religioso ou filosófico… Não acha possível que as gerações presentes saibam a priori o que é melhor para a geração futura. Identifica no ato de educar um vício reacionário de milênios, que tenta impedir às novas gerações de manifestar o seu passo evolutivo. A educação, segundo Tolstoi, seria sempre uma tentativa de conservação do status quo. Aponta mesmo uma atitude – hoje diríamos neurótica – por parte do adulto, em modelar a criança à sua imagem e semelhança. Considera essa atitude compreensível embora não justificável, nos pais. Mas condena-a como inaceitável na relação professor-aluno.

Nesse nihilismo pedagógico, aparecem algumas concepções filosóficas muito próprias de Tolstoi. Até o fim de seus dias, ele iria questionar a relatividade do saber e da ciência. Não pode assim reconhecer a sua soberania inquestionável no ensino às crianças. Mas, usa um argumento interessante, opondo concepções a seu ver contraditórias na sociedade de então: se a história da ciência é uma sucessão de revisões, erros e correções, a única convicção da humanidade atual (ao contrário das concepções de mundo religoso-dogmáticas) é a crença no progresso. Ora, como associar essa postura não-absoluta que a ciência deve assumir para continuar evoluindo, com a postura dogmática da instituição escolar?

Uma ressalva explicativa se faz necessária ao termo nihi-lista. Por diversos interpretes. Tolstoi foi assim chamado e o objetivo lhe cabe, inclusive no campo pedagógico, se como esclarece Brugger tratar-se do “nihilismo que rejeita a ordem política existente e muitas vezes toda ordenação social a estatal” (11). Na escola, Tolstoi relativiza valores como ordem, disciplina e mais ainda: verdades pedagógicas universais, válidas para qualquer época, para qualquer criança. Mas não se pode enxergar nenhuma inclinação do nihilismo tolstoiano a uma abolição de todo valor objetivo e, muito menos, a uma dissolucão ontológica. O valor máximo que sobressai de suas reflexões e práticas pedagógicas é a liberdade. Mas essa crença irrestrita na liberdade, baseia-se numa fé intrínseca na capacidade de autogoverno do ser humano, em uma palavra, fé na bondade natural do homem. Seria interessante aprofundar no pensamento de Tolstoi justamente essa concepção de homem – que desmente qualquer identificação entre o ser e o nada, na linha do nihilismo filosófico, sobretudo porque Tolstoi reconhece sempre no ser uma origem divina. Embora se afaste do conceito de Deus, vigente nas igrejas, por ele considerado antropomórfico, permanecerá fiel à raiz cristã. Tolstoi pregará um retorno ao Cristianismo primitivo (isento de dogmas de fé, rituais, hierarquias e instituições), em que a recomendação de Jesus – “amai-vos uns aos outros” – se tornará a resposta e a solução, portanto, o valor absoluto para uma ordenação social justa (12).

A EXPERIÊNCIA DE IASNAIA POLIANA

A narrativa sobre a escola e a descrição de seu funcionamento têm as cores vivas de um testemunho apaixonado e apaixonante. Tolstoi de fato se entregou à tarefa de educador, juntamente com alguns poucos colaboradores, impregnado desse espírito libertário, lançando fora toda rigidez de modelos prontos e pré-estabelecidos. E, dispondo-se a contar ao leitor sua experiência, avisa que não pretende criar um modelo, pois isso seria a negação de sua anti-pedagogia.

“A escola, parece-nos, deveria ser um instrumento de instrução e, com isto, uma tentativa praticada sobre a nova geração, tentativa que daria sempre resultados novos. Apenas quando a experiência for a base da escola, somente quando cada escola for, por assim dizer, um laboratório pedagógico, então ela não ficará atuís do progresso geral, e a observação poderá edificar a ciência da educação sobre sólidos fundamentos” (13).

Durante a narrativa de L’École de Yasnaia Poliana, percebe-se que Tolstoi acreditava nisso (14). Em várias ocasiões, o peso do sistema autoritário adquirido pelos adultos através de sua própria educação, fazia com que os adultos tivessem recaídas, tentassem impor regras de ensino, conteúdos pré-programados… mas o desgosto, o desinteresse das crianças logo os alertava, logo os reconduzia aos caminhos da liberdade. Isso porque, na escola de Tolstoi, as crianças podiam entrar e sair livremente, não eram obrigadas a assistir às aulas e se estivessem em classe, não havia coação de espécie alguma para prestarem atenção. Não havia notas, nem exames… O que estava constantemente sendo avaliado era a capacidade dos professores em interessarem os alunos, a sua habilidade em se comunicar com eles. E, no entanto, havia dias em que as crianças ficavam tão envolvidas com as aulas, com o assunto em pauta (por sinal sempre estudado, discutido, pesquisado em conjunto), que o período escolar durava 7 ou 8 horas… O interesse espontâneo suscitava um envolvimento total.

Na organização da escola é que se manifestava fortemente o espírito anarquista de Tolstoi. Em experiências como a de A. S. Neill em Summerhill ou a de Janusz Korczak, com seu orfanato de crianças judias na Polônia, a autogestão infantil seria feita nos moldes de uma democracia moderna: assembleias, parlamentos de crianças e adultos (com peso igual nos votos), para se determinar as regras de convivência, para se apresentar queixas mútuas e punições serem estabelecidas pelas próprias crianças, em caso de infrações graves as regras estabelecidas por elas mesmas. Essa autogestão, nas experiências mais vanguardistas, supõe sempre um governo – o mais democrático possível, mas ainda um governo e regras e sistemas de punição. Pois nesse aspecto, o Tolstoi de 1862 é mais radical que os mais radicais do futuro. A escola de Iasnaia Poliana não tinha regras formuladas em forma de leis. Havia apenas regras espontâneas surgidas da necessidade da conveniência. Tolstoi acreditava – e de fato a sua experiência pelo menos demonstrava a viabilidade do fato – que de uma desordem inicial, a organização brotaria naturalmente, sem nenhum sistema de controle. Era o que ele depois estenderia à sociedade como um todo. Vejamos como ele descreve o começo de tudo:

“Devo me explicar. Descrevendo a escola de Iasnaia Poliana, não pretendo oferecê-la como um modelo bom e útil para ser imitado, quero apenas mostrá-la como ela é. Creio que tais descrições podem ter suas vantagens. Se eu conseguir, nas páginas seguintes, retraçar com nitidez a história do desenvolvimento da escola, vai ficar claro ao leitor como se formou o espírito atual, por que eu o considero bom, por que me seria absolutamente impossível mudá-lo, mesmo se eu o quisesse.

A escola se desenvolveu livremente só pela virtude das regras estabelecidas pelo professor e pelos alunos. Apesar de toda a autoridade do professor, o aluno teve sempre o direito de não frequentar a escola e, mesmo frequentando a escola, de não escutar o professor. O professor teve sempre o direito de não conservar o aluno com ele, e o poder de agir com a força da sua influência, sobre a maioria dos alunos, sobra a sociedade que eles formam entre si. Mais as crianças avançam no estudo, mais o ensino se alarga, e mais se impõe a necessidade de ordem. Por consequência, numa escola que se desenvolve normalmente e sem violência, mais os alunos são instruídos, mais eles se tornam capazes de ordem, mais eles se sentem por si mesmos a sua necessidade, e mais facilmente, se estabelece a autoridade do mestre.

Na escola de lasnaia Poliana, desde a sua fundação, esta regra foi constantemente confirmada. A princípio, impossível de se distribuírem as classes, nem as matérias, nem as recreações, nem os deveres: tudo se confundia, todas as tentativas de partilha permaneciam vãs. Hoje, há alunos da primeira série que pedem eles próprios para aproveitar o emprego do tempo. Eles se aborrecem quando são arrancados de suas lições e expulsam os pequenos, que vão importuná-los.

Na minha opinião, essa desordem exterior é coisa útil, indispensável, por mais estranha e incômoda que pareça ao professor. Terei de voltar com bastante frequência à vantagens desta organização; quanto aos inconvenientes, eis o que tenho a dizer:

Primeiramente, esta desordem, ou ordem livre, nos parece assim terrível apenas porque estamos acostumados a um outro sistema, segundo o qual nós mesmos fomos educados.

Em segundo lugar, nesse ponto como em muitos outros, o emprego da violência está fundamentado sobretudo numa interpretação irrefletida e desrespeitosa da natureza humana. Parece que a desordem vence, aumenta de instante a instante, parece que nada pode detê-la senão a coação. E no entanto, basta esperar um pouco para ver esta desordem (ou este fogo) se acalmar por si mesmo e produzir uma ordem bem melhor e mais estável do que aquela que poríamos no lugar” (15).

A questão da violência ocupará lugar central no futuro filosofar tolstoiano. Mas na mini-sociedade escolar de Iasnaia Poliana (escola mista, com cerca de 40 crianças, filhas de camponeses e de proprietários rurais da redondeza), já se veem esboçadas na prática, as reflexões que Tolstoi faria a respeito da sociedade humana. A violência esporádica entre indivíduos nunca era reprimida. As brigas não eram apartadas. As discussões entre as crianças não eram interrompidas pelos professores. Tolstoi não admitia que o adulto tomasse partido ou exercesse o papel de juiz – porque, segundo ele, qualquer justiça extrínseca desaguaria necessariamente numa injustiça. Ademais, pregava ele e contava exemplos e casos ilustrativos de sua teoria, que as crianças se cansam espontaneamente da violência. E quando alguma delas se excede e comete uma injustiça, elas mesmas se autorregulam, no sentido de pressionar o indivíduo anti-social a se reajustar. A violência que Tolstoi critica – e criticará na sociedade humana – é a violência institucional, organizada, armada de sistemas controladores e repressores. Para ele, é esse o tipo de violência que vai produzir indivíduos de fato antissociais, porque crianças criadas sob opressão serão necessariamente hipócritas, subservientes ou autoritárias elas mesmas. Nesse sentido, pode-se dizer que a socialização da criança, em Iasnaia Poliana, não se dava através de uma ordem imposta, mas através de uma ordem criada pelos indivíduos que a compunham. Se falarmos em aspectos morais da educação de Tolstoi, fica evidente que as relações entre os adultos e as crianças é que deviam ser morais. Dessa relação não-violenta, não-opressora é que podia nascer alguma consciência nas crianças de convivência social justa e fraterna. A moralidade não se apresenta assim, como um arquétipo externo, que deve se impor à conduta infantil. A ordem moral brota das relações humanas, vivenciadas de forma não-violenta. Ai se manifesta mais fortemente o otimismo de Tolstoi em sua concepção de homem, que o aparenta intimamente a Rousseau. O que torna o homem pior é a estrutura injusta de uma determinada ordem social. Mas a solução tolstoiana é oposta à do Contrato Social. Rousseau pretende um Estado moral. Ao invés, Tolstoi propõe uma sociedade sem Estado. Quebradas essas estruturas, arrefecidos os freios, abolida a violência institucional, o ser humano se mostra cooperativo, pacífico e ajustado. Os possíveis desvios de comportamento são acidentes contornáveis e sem duração permanente.

No campo das punições, Tolstoi não reconheceria depois o próprio direito da sociedade em julgar e castigar os criminosos. Aplicava na coletividade, a máxima cristã do “não julgueis”. Sabe-se que esta briga do escritor, contra o que ele considerava urna vingança da sociedade, começou durante uma de suas viagens à França, onde ele assistiu à execução de uma pena capital. Na escola de Iasnaia Poliana, Tolstoi narra um acontecimento significativo, que provavelmente deve tê-lo influenciado grandemente em suas formulações futuras. É a respeito de um menino que tinha mania de furtar. As próprias crianças exigiram urna punição humilhante para o culpado e Tolstoi consentiu. O menino reincidiu na falta. As crianças foram mais severas em seu julgamento. Mas, com sua peculiar capacidade de empatia com a alma humana, Tolstoi olhou para o menino, percebeu a sua revolta, a sua dor e num relance concluiu o quanto aquele castigo estava corrompendo e anulando a sua dignidade. Num impulso, Tolstoi arrancou a placa depreciativa que lhe haviam pregado e mandou-o brincar. Essa experiência foi decisiva para que ele se convencesse definitivamente de que não havia espaço para a punição na vida escolar.

“Nosso mundo da criança, de seres simples, francos, deve permanecer puro de mentira, desta crença criminosa na legitimidade do castigo, donde se seguiria que a vingança é justa, desde que a chamemos de punição…” (16).

CRIATIVIDADE: ELEMENTO E FIM DA EDUCAÇÃO

Tolstoi chamou as escolas de lugares de “emburrecimento” (do alemão verdummen) e a sua proposta libertária inclui um conceito moderno, cujo vocábulo ainda nem havia surgido no século passado: criatividade. Sob duas perspectivas, Tolstoi tratou do assunto, sem mencionar explicitamente o termo. Em primeiro lugar, entendeu o quanto a escola comum entrava a manifestação da capacidade criativa:

“Este estranho estado de psicologia, que eu chamaria de estado ‘escolar’ da alma, e que infelizmente todos nós conhecemos tão bem, consiste nisto em que todas as faculdades superiores – imaginação, gênio criador, dignidade – cedem lugar a outras faculdades semi-animais: pronunciar sons sem atenção ao seu sentido, contar os números em fila, 1, 2, 3, 4, 5… suportar palavras, sem permitir à imaginação vivificá-la através das formas – em suma, abafar dentro de si todas as altas faculdades, para desenvolver apenas as faculdades compativeis com o estado escolar – a apreensão, a tensão da memória e a atenção.

O aluno contrasta bastante na escola, até que tenha resvalado para a rotina deste estado semi-animal. Quando o aluno chega a este ponto, já perdeu toda a independência, quando os diversos sintomas do mal se manifestam nele – a hipocrisia, a mentira sem motivo, a estupidez etc. – quando ele não contrasta mais na escola, é que ele já resvalou para a rotina e o professor começa a se declarar contente com ele.

Então aparecem também esses fenômenos, nem um pouco acidentais, mas constantes: o mais mentecapto torna-se o melhor aluno, o mais inteligente torna-se o pior aluno” (17).

Captando, porém, o sentido da criatividade na proposta de Tolstoi, percebe-se que não se trata de algo meramente aplicado a um processo artístico. Embora ele cite especificamente, a propósito das aulas de desenho, a necessidade de se criar, muito além da mera formação técnica:

“Se o aluno não aprende desde a escola a criar, ele saberá apenas imitar durante toda vida. Depois de ter aprendido a copiar, bem poucos são capazes de fazer uma aplicação pessoal de seus conhecimentos” (18).

O processo criativo na escola de Iasnaia Poliana vai muito mais longe. Faz parte da própria interação social, da própria constituição da comunidade escolar, de seus métodos e de sua vivência diária. Os alunos e os professores são induzidos a criar todos os dias as relações humanas, o conteúdo a ser estudado, a maneira de se chegar ao conhecimento. Se nada é pré-determinado, se a liberdade é a única bússola de ação, então a criatividade é a única atitude possível de cada indivíduo envolvido no processo. A propósito, Tolstoi narra como a comunidade escolar enfrentou o problema da alfabetização. No início, contrariando suas próprias convicções, Tolstoi tentou impor diversos métodos. Defrontava-se com o dilema de como interessar as crianças a aprenderem a ler. Nada do que propunha dava resultado. Afinal, abandonou-se à vontade das crianças. E o que obteve foram cinco métodos diferentes de aprendizagem, alternados ou combinados espontaneamente pelos alunos. Em pouco tempo, a maioria já lia e escrevia com perfeição. Para comprovar aos leitores o sucesso, Tolstoi chega a inserir algumas das redações de seus alunos. É claro: esses cinco métodos diferentes refletiam as condições e a mentalidade da época. Seriam inaplicáveis com crianças da era TV. Mas era justamente isso que Tolstoi pensava. Nenhuma escola poderia ser igual a outra, já que elas deviam brotar não apenas das condições históricas – Tolstoi não era estritamente um historicista – mas da peculiaridade psíquica e espiritual dos indivíduos reunidos, do infinito potencial da criatividade humana.

BIBLIOGRAFIA

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Este artigo foi recebido para publicação em 02/06/89 e só liberado em janeiro de 1991. Por quê?

NOTAS

Dora Incontri é jornalista. Mestra em Filosofia e História da Educação do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.

(1) Essas edições francesas, sem tradução para o portugues, contém na verdade artigos publicados em 1862, numa revista chamada Iasnaia Poliana. Essa informação, contudo, não consta nas próprias edições. Quem a menciona é Jean-Claude Filloux, em seu artigo La Péciagogie Libertaire de Tolstoi in Bulletin de Psychologie. 25 (302), 995-1003,1971-72. Todas as citações dessas obras no presente artigo são tradução livre da autora.

(2) A esse propósito, escreveu Tolstoi em 1897: ‘Não há e nunca houve minha doutrina. Há uma doutrina eterna, universal, verdadeira, para mim e para todos, expressa claramente, sobretudo nos Evangelhos.” (Tolstoi, Léon. Lettres I et IL Paris: P. V. Stock Editeur, 1902, p.30.)

(3) Zweig, Stefan. O pensamento Vivo de Tolstoi. São Paulo: Livraria Martins, 1967, p.16. (Biblioteca do Pensamento Vivo).

(4) Segundo Schneider, Friedrich. La Pedagogia Comparada (Barcelona: Herder, 1966), a influência das ideias pedagógicas alemãs, na Rússia czarista, era considerável, destacando-se sobretudo a das teorias de Basedow e Herbart. E ao encetar sua viagem, Tolstoi estava apenas seguindo o hábito dos aristocratas russos, dedicados ã Educação. Eles visitavam países estrangeiros, para colher ideias e entrar em contato com outras realidades. A originalidade de Tolstoi se deve à sua tomada de posição diante do que viu.

(5) Tolstoi, Léon. La Liberte dans L’École. Paris: Nouvelle Librairie Parisienne, 1888, p.30/31

(6) Veja-se in Collichio, Therezinha A. F. A Contribuição de Joaquim Teixeira de Macedo para o Pensamento Pedagógico Brasileiro. Dissertação de Mestrado. São Paulo: FEUSP, 1976, como o sistema educacional alemão, com suas escolas públicas e obrigatórias e todo o seu cortejo ideológico da formação de “bons cidadãos”, tinha adeptos ardorosos aqui no Brasil. Desde o tempo de Pestalozzi, a vanguarda na Educação, em toda a parte, sempre defendeu ardorosamente a escola pública.

(7) Tolstoi, Léon. op. cit. p.73-74.

(8) Deve-se notar a escassez de informação disponível sobre a História da Educação na Rússia czarista. Os livros de Pedagogia comparada e de História da Pedagogia mal tocam nesse período. Quando se detêm a analisar a Educação naquele país, dedicam-se muito mais ao sistema instalado pela Revolução.

(9) Veja-se Hubert, René. História da Pedagogia. São Paulo: Nacional, 1957, p.142.

(10) E preciso entender aqui a palavra educar dentro do contexto tolstoiano. Na longa discussão que ele trava com os conceitos, depreende-se que ele associa a educar, a modelação, a imposição, o condicionamento. A essa concepção, ele opõe o termo russo obrazovavic, traduzido em francês como instrução. Mas como os próprios tradutores explicam a instrução do francês (idêntica à do português) é muito menos ampla que o vacabulário original. Segundo a edição francesa, obrazonavif envolve as letras, as artes, as ciências e o desenvolvimento físico. Talvez, corresponda ao “Bilclung” do alemão, o que poderíamos traduzir por formação.

(11) Brugger, W. Dicionário de Filosofia, 2 ed. São Paulo: Herder,1969, p.289.

(12) “A solução é esta: porque todos os homens são irmãos e iguais entre si, cada um deve agir em relação ao outro, como quereria que o outro agisse em relação a si mesmo. Por isso toda a questão se resume na destruição da lei religiosa mentirosa e no estabelecimento da verdadeira lei.” Tolstoi, Léon. Qu’est-ce que la Réligion7 Paris: Stock, 1902, p. 51.

(13) Tolstoi, Léon. La Liberté dans L’École. op. cit. p.47.

(14) Vale citar aqui um comentário de Jean-Claude Filloux: “E interessante ler como, paradoxalmente, ele anuncia e denuncia por preterição certos aspectos dos métodos ativos: ele os anuncia, quando por exemplo antecipa curiosamente a escola-laboratório de Dewey, vendo na escola não uma preparação para a vida, mas a própria vida e centraliza a vida escolar no aluno; mas ele denuncia já aí qual será seu dogmatismo (…) – contestando a pretensão do pedagogo a um saber exterior sobre a criança e suas necessidades.” La Pédagogie Libertaire de Tolstoi. Bulletin de Psychologie. op. cit., p.1003.

(15) Tolstoi, Leon. L’école de Yasnaia Poliana. Paris: Nouvelle Librairie Parisiense, 1988, p21 a 24.

(16) idem, ibidem, p.40.

(17) Tolstoi, Léon. La Liberté dans L’École. op.cit., p.41112.

(18) Tolstoi, Léon. L’école de Yasnaia Faliana. op.cit., p.307.

Fim do texto.

DEVEMOS MELHORAR OU MUDAR A EDUCAÇÃO?

Para saber isso vamos conhecer as principais críticas feitas por pensadores da educação e refletir se nossas atividades estão sintonizadas com a mudança que está vindo, em especial agora que a sociedade está ficando mais interativa e com a inteligência artificial que vai se encarregar de muitas das tarefas que sempre foram executadas por nós. Mais um motivo para tentar descobrir quais são as características de uma aprendizagem tipicamente humana, que nunca poderá ser realizada por máquinas ou programas inteligentes.

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