Uma pequena matéria — publicada na edição da revista VEJA em 16/03/2016 — sobre George Martin (1926–2016), produtor dos Beatles, revela muito mais do que parece.
O destaque da matéria é a seguinte frase de Martin:
Havia uma força inexplicável quando você juntava os quatro Beatles numa sala.
Claro que, depois que o grupo se desfez, os talentos individuais dos seus integrantes não diminuíram, mas aquele efeito de conjunto (um efeito-rede) desapareceu. Isso acontece com todos os grupos criativos e foi a base para a ideia de formar clusters altamente criativos de inteligência colaborativa que inspirou o que chamamos de Migração.
O problema é que não sabemos quais são as condições para que isso aconteça. São muitas as variáveis. E os ambientes criativos assim conformados geram constelações particularíssimas.
Já sabemos, porém, algumas coisas. As duas principais são: sintonia e sinergia. Sem sintonia as pessoas não se juntam. E sem sinergia sua interação não consegue ser criativa. Mas estas são condições necessárias, conquanto não suficientes. A terceira coisa, sobre a qual temos pouco conhecimento ainda, é uma espécie de simbiose: mais, no caso, uma metonímia, pois não se trata da simbiose observada nos reinos vivos: é algo semelhante à alostase social e à alterpoiese (criação-entre), que estão implicadas, de uma maneira até agora inexplicável, no fenômeno que, na falta de termo melhor, chamamos de inteligência coletiva, mas que envolve mais a emoção tipo Sense8 do que propriamente a razão.
Só o emocionar sintônico, sinérgico e simbiótico pode explicar o aparecimento daquela “força inexplicável quando você juntava os quatro Beatles numa sala”, percebida por George Martin. Não dura para sempre, é claro. Acontece numa bolha, numa zona temporária que se forma no espaço-tempo dos fluxos.
Publicado originalmente no Medium em 16 de março de 2016.