Pode haver uma ciência democrática?

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Pode haver uma ciência democrática?

A visão interativista não se reduz à tentativa de explicação do fenômeno da aprendizagem (o que é, como acontece). Na verdade, de um ponto de vista interativista não há aprendizagem sem investigação e vice-versa (ou melhor, não se pode separar os dois processos). Mas uma visão não-cognitivista sobre a aprendizagem e a investigação – como é a visão interativista – muda radicalmente as bases do que o segundo milênio chamou de ciência, sobretudo do que os filósofos da ciência, a partir do final do século 19, chamaram de ciência. Tal como as teorias da aprendizagem são cognitivistas, a ciência (assim definida pelos epistemólogos racionalistas da ciência) também é cognitivista. A ciência é, basicamente, platônica e com isso não quero dizer que a ciência não passa de uma ideologia (a ideologia do platonismo) e sim que ela é explicada e justificada de um ponto de vista cognitivista herdeiro do platonismo.

Fico pensando então o que seria uma ciência não-cognitivista, ou seja, não baseada em uma teoria do conhecimento e sim numa teoria da alostase social (como seria uma teoria, ainda em construção, interativista da aprendizagem). A ciência é escolástica (no sentido literal do termo, de que é uma propriedade da escola, da academia, ou seja, não aristotélica – como se confundiu na Idade Média – e sim, a rigor, platônica mesmo, como sabemos desde Robert Grosseteste). Seu ambiente original é hierárquico e autocrático. Imaginem agora o que seria uma “ciência” protagoriana, quer dizer, sofísta. Uma “ciência” que não tivesse nascido como efluxo de um organismo social autocrático e sim democrático. Uma “ciência” que não desvalorizasse a opinião (doxa) em relação ao saber (episteme). Seria possível uma ciência (sem as aspas) assim? Ou o que chamamos de ciência tem que ser necessariamente closed science (para conhecer minha distinção entre closed science e open science clique aqui), conforme à academia (um tipo de organismo social fechado, um cluster de sábios, separado do vulgo, do não-sabio)?

Interativistas são uma espécie de sofistas contemporâneos, mais protagorianos do que platônicos, mais tendentes a explicar a aprendizagem pelas alterações na configuração do campo social do que pelos conteúdos transmitidos-recebidos e sempre avalizados por algum tribunal epistemológico (uma casta de sábios). Diga-se o que se quiser dizer, cognitivismos – mesmo construtivistas – são conteudismos. Por isso todo affaire educativo (ou preparativo para a ciência, ou avalizável pela ciência) é baseado em conteúdo, na assimilação e verificação de algum conteúdo que foi desenvolvido e guardado por outrem para ser transmitido do mestre ao discípulo (ainda que esses nomes tenham mudado, há sempre um sacerdócio – uma intermediação institucionalizada – cuja presença é necessária).

A questão é relevante pelo seguinte. O meio onde se gera ciência cognitivista (a academia, do ponto de vista da sua morfologia e da sua dinâmica) tem a ver com o modo de observação-investigação-explicação validado pelos epistemólogos da ciência como ciência? O “produto” (por assim dizer) tem a ver com a configuração da “fábrica”? É possível validar modos de observação-investigação-explicação não-acadêmicos? Ou, em termos um tanto poéticos, a praça pode gerar algum tipo de ciência? Ou, ainda, o Zeus Agoraios e a deusa Peitho podem ser numes tutelares de alguma ciência ou só é ciência o que estiver sob a proteção de Atena (a deusa do que hoje seria algo mais parecido com a ciência, que também o era da guerra, ou seja, da autocracia)?

Uma ciência que foge (se tranca, fecha as portas às pessoas comuns) da praça não seria autocrática? Não, não há aqui propriamente qualquer deslizamento epistemológico. Há uma indagação sobre os efeitos do condicionamento recíproco entre o ambiente em que uma coisa é produzida e o produto. Nesse sentido, pode haver uma ciência democrática? Perguntando de outra maneira. Sabe-se que a ciência é sacerdotal, mas pode haver uma ciência poética? Autopoética? Ou melhor, alterpoética?

Voltemos à época em que o segundo milênio começou a cogitar de alguma coisa que depois foi chamada de ciência. E se em vez de fazer experimentos para conhecer o mundo houvesse uma ciência para experimentá-lo? Uma ciência rogerbaconiana, considerando que o experimentalismo de Roger Bacon não foi o precursor do experimentalismo de Robert Boyle (para o primeiro a ciência da experiência era um fim enquanto que para o segundo o método experimental era um meio).

E se as formulações em prol do experimentalismo de Bacon não desembocaram naquilo que ele talvez pretendesse: a ciência experimental (ou melhor, a ciência da experiência) como um fim e não como um meio de fazer a natureza revelar seus segredos (Galileu)?

E se o que se chamou de ciência não fosse a mesma coisa que uma “ciência” onde o sujeito e o objeto da investigação se fundem e se transformam (cabendo à teoria um papel ou um sentido, talvez, mais órfico, de contemplação e comunhão com o cosmos e não predominantemente especulativo e explicativo)?

Tantas perguntas. Quantas respostas?

DEVEMOS MELHORAR OU MUDAR A EDUCAÇÃO?

Para saber isso vamos conhecer as principais críticas feitas por pensadores da educação e refletir se nossas atividades estão sintonizadas com a mudança que está vindo, em especial agora que a sociedade está ficando mais interativa e com a inteligência artificial que vai se encarregar de muitas das tarefas que sempre foram executadas por nós. Mais um motivo para tentar descobrir quais são as características de uma aprendizagem tipicamente humana, que nunca poderá ser realizada por máquinas ou programas inteligentes.

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