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Alexander Soljenítsin ou Aleksandr Solzhenitsyn (1918-2008) foi um romancista russo – Nobel de literatura em 1970 – que escreveu, entre outros, o livro Um dia na vida de Ivan Denisovich (1962). Publicado no auge da Guerra Fria (sob licença expressa de Nikita Kruschev ) a obra foi escrita em segredo. Reportagem da época do lançamento (publicada em outubro de 1962 na revista Veja) relata o seguinte:
“O autor da obra, um professor e historiador de 43 anos, não imaginou as atrocidades relatadas no livro nem ouviu os testemunhos de antigos prisioneiros – Solzhenitsyn sentiu a fúria do regime na própria pele, numa longa detenção que só por milagre não lhe custou a vida. Comandante de um pelotão de artilharia no Exército Vermelho durante a II Guerra Mundial, ele foi condecorado duas vezes no decorrer dos combates. No fim da campanha, entretanto, foi detido por criticar Stalin numa carta privada enviada a um amigo. Até esse momento, Solzhenitsyn jamais questionara a ideologia comunista ou a propalada superioridade dos soviéticos frente ao mundo capitalista. Tudo isso mudou nos oito anos de prisão nos campos para prisioneiros políticos. Em um deles, em Ekibastuz, no Cazaquistão, o autor foi escravizado como mineiro e pedreiro, sempre sob condições desumanas. Só deixou o campo em 1953, vítima de câncer [na verdade de um tumor não identificado] e à beira da morte. Curado num hospital de Tashkent, Solzhenitsyn foi perdoado e pôde retornar à porção européia da URSS, onde passou a trabalhar como professor de escola secundária. À noite, contudo, o ex-prisioneiro escrevia em segredo, sem jamais imaginar que algum dia poderia mostrar essas páginas para qualquer outra pessoa.
Descrente das ilusões marxistas, Solzhenitsyn inspirou-se na sua própria trajetória pelos campos do gulag [realidade tenebrosa revelada ao mundo, anos mais tarde, por ele mesmo, em Arquipélago Gulag (1973)] para escrever Um Dia na Vida de Ivan Denisovich. Assim como ele, o personagem do título é capturado pela máquina do Kremlin graças a uma acusação esdrúxula – no caso de Denisovich, a suspeita de que teria espionado para os alemães depois de ser capturado na II Guerra. O prisioneiro era inocente, mas recebeu uma pena de dez anos no gulag. O livro revela aspectos estarrecedores do sistema de repressão aos dissidentes. Denisovich já acorda passando mal, é castigado por dormir alguns minutos a mais, passa o dia trabalhando num frio de rachar a espinha e tem de brigar para conseguir engolir uma ração miserável. O cenário descrito pelo personagem é desolador: os prisioneiros enfrentam o inferno branco do Cazaquistão com sapatos menores que seus pés, luvas que rasgam a qualquer movimento, camas raquíticas e cobertas esburacadas. Acabam torcendo por um frio ainda mais intenso – a única situação em que são dispensados dos massacrantes trabalhos braçais é quando o termômetro aponta menos de 41 graus abaixo de zero. Solzhenitsyn só resolveu mostrar ao mundo sua obra há alguns meses, quando tomou coragem e procurou o editor-chefe da Noviy Mir, um poeta chamado Alexander Tvardovsky, com o manuscrito em mãos”.
Massacrado pela máquina infernal do Estado soviético – antes, durante e depois da sua prisão, inclusive no seu tempo de exílio nos Estados Unidos -, vítima da contra-propaganda dos comunistas que jamais o perdoaram por ter desmascarado o horror do regime soviético, Soljenítsin refugiou-se na religião, denegou a democracia (conquanto tenha se notabilizado pela denúncia mais veemente do terror de Estado autocrático), aplaudiu ditaduras como a de Franco e Pinochet, para acabar sucumbindo aos encantos de Putin (chefe da FSB, sucessora da KGB, sucessora da NKVD que o prendera em 1945 simplesmente por ter feito críticas indiretas a Stalin em correspondência privada a um amigo).
Na interpretação do livro Um dia na vida de Ivan Denisovich (assim como do restante da sua obra, em especial Arquipélago Gulag e O Primeiro Círculo) não conta para nada a trajetória posterior da vida de Soljenítsin. Não se trata de uma luta entre Soljenítsin e o comunismo (ou melhor, a ditadura na Rússia e satélites, chamada de União Soviética) para ver quem é melhor ou menos pior e sim da denúncia de quem sofreu na pele suas terríveis consequências. Não há mais o que dizer. É preciso ler.
Baixe leia o livro de Soljenítsin: Um dia na vida de Ivan Denisovich Alexander Soljenítsin 1963
Atenção: colocar aqui um google form embedado.
ITINERÁRIO 1 – QUESTÕES DO MÓDULO 9
Escreva aqui o seu nome completo: ______________________________________
Escreva aqui a data em que você enviou este questionário: _____________
QUESTÃO 01
01 – Os campos de trabalho forçado na ex União Soviética foram restabelecidos em 1943 e substituídos em 1948 pelos campos especiais retratados no livro de Soljenítsin. Em que consistiam? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) Eram, simplesmente, prisões para separar da sociedade os dissidentes, os opositores, os críticos ou qualquer pessoa que, potencialmente, pudesse – aos olhos do Partido – vir a ser algum dia dissidente, opositor ou crítico.
b) Eram apenas campos de concentração, voltados ao extermínio de inimigos do regime, tais como os campos nazistas.
c) Os campos especiais eram uma máquina infernal de quebrar pessoas, não principalmente pela tortura e pela violência física (embora isso também houvesse) e sim pela manipulação programada da escassez de recursos sobrevivenciais: sobretudo a escassez de comida, a escassez de roupas e aquecimento e a escassez de tempo livre para fazer qualquer coisa.
d) Os campos especiais eram uma espécie de usina de sofrimentos para espalhar subterraneamente o terror: seu objetivo não era matar as pessoas e sim deixá-las sair após longo período de provação. A pessoa assim modificada ou quebrada pela rotina demoníaca do campo virava agente de uma rede surda de contaminação (vetor de uma espécie de epidemia do medo) dissuadindo, por dentro da sociedade (em geral por conexões íntimas, peer-to-peer) quaisquer iniciativas de contradizer as diretivas do Partido.
e) Nenhuma das alternativas anteriores
QUESTÃO 02
02 – O tenebroso esquema de controle estabelecido no campo era baseado numa deformação dos fluxos interativos da convivência social (para desarticular a rede ou exterminar capital social): as aglomerações (clustering) estavam predeterminadas de sorte a transformar cada preso em um agente do campo (um repressor do próximo e, no limite, um delator), reduzindo drasticamente os níveis de confiança social. Se você concorda com a afirmação acima, escolha a passagem do livro que melhor descreve esse processo. (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) “A gente poderia ficar pensando: para que um zek (interno) fica dando duro dez anos seguidos? Só que não dá. E é para isso que inventaram a brigada. Ah! a brigada não é como em liberdade, onde eu recebo o meu salário do meu lado e você recebe o seu. Não mesmo: uma brigada de campo é um sistema para que não seja a administração que tenha que fazer os zek suarem, mas que cada zek obrigue o outro a trabalhar. Aí é simples: ou todo mundo ganha ração suplementar, ou todo mundo se prejudica junto. Por causa do merdinha que não quer fazer nada, eu vou ter que eu, eu, ficar sem comer? Nada disso, camarada! Vamos trabalhar!”
b) “O inimigo de verdade do preso é o seu colega preso. Se os zek não fossem uns cachorros uns com os outros… [Nesse caso, os chefes não teriam mais condições de mandar neles.]”
c) “Teve um tempo que o comandante do campo tinha ainda feito um regulamento… que dizia que nenhum preso devia circular sozinho. Onde dava, as pessoas deviam ir em coluna por brigada. E quando não dava, por exemplo, para a enfermaria ou para o banheiro, precisava formar destacamentos de quatro ou cinco e designar para cada um deles um chefe de destacamento que levava os homens em fila até o destino deles, esperava que eles acabassem e trazia de volta, sempre em fila indiana”.
d) Nenhuma das alternativas anteriores.
QUESTÃO 03
03 – Examine a seguinte passagem do livro de Soljenitsin: “Durante essa recontagem da volta, de noite, na porta do campo, depois de um dia inteiro de vento, no frio e de barriga vazia, o zek (interno) só pensa numa coisa: a sua concha de sopa fervendo. Ele espera por ela como a terra espera pela chuva num verão de seca. Ele tomaria aquela sopa num gole só. Essa concha, nessa hora, ela dá mais valor para ela do que para a liberdade, do que para a vida, do que para toda a sua vida de antes e de depois. Quando o zek atravessa a porta do campo, ele é o soldado que volta da batalha: grita, vira cambalhota, solta o fogo de Deus, e é melhor sair de baixo!” Qual o elemento do trecho acima lhe parece mais relevante para explicar o processo de modificação da pessoa operado pela máquina infernal que é o campo especial stalinista? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) A produção artificial de escassez (no caso, de comida e de proteção para o frio) como mecanismo de controle total da pessoa.
b) A redução do ser humano a um ser de carecimento a tal ponto que a liberdade passa a não ter mais relevância (por exemplo, diante da comida e do calor).
c) Uma operação sobre as emoções (uma espécie de reengenharia emocional) que visa, na verdade, produzir um outro tipo de ser humano, capaz de um emocionar vigoroso, agressivo, porém não-tipicamente humano.
d) Nenhuma das alternativas anteriores.
QUESTÃO 04
04 – Quais indicadores de um modo de regulação autocrático podem ser percebidos no campo especial retratado por Soljenitsin? (Atenção: você pode marcar mais de uma alternativa)
a) O controle das pessoas pelo trabalho, inclusive pelo trabalho inútil (o trabalho pelo trabalho, o trabalho como pena, fardo para disciplinar os corpos e moldá-los segundo as pretensões do Partido).
b) O controle rígido do tempo, fracionando a vida dos internos em horas predeterminadas para determinadas atividades (mesmo que as agendas não tivessem qualquer sentido além de expropriar das pessoas parte considerável de sua própria vida).
c) O controle dos espaços, com numerosas delimitações onde seria possível uma pessoa estar ou se locomover.
d) O controle da interação, impondo clusterizações forçadas (grupos de quatro, grupos de sete ou de qualquer número predeterminado, esquadrões e divisões) para qualquer atividade, desde a ocupação dos alojamentos, passando pelas brigadas de trabalho até a alimentação no refeitório.
e) A hierarquização completa de todo pessoal administrativo do campo e de seus auxiliares, com o uso dos próprios detentos para vigiar, delatar e punir os outros internos.
f) O detalhado regulamento (havia regras para tudo, inclusive para o uso de ferramentas e o tempo em que cada trabalhador-forçado poderia ficar com cada uma, mesmo que fosse para o trabalho ao qual foi designado).
g) Nenhuma das alternativas anteriores.
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