Quando você pede explicação é porque não entenderá
Em certos assuntos – como, por exemplo, a diferença entre participação e interação, entre descentralização e distribuição, entre indivíduo e pessoa – dificilmente alguém que não consegue entender a distinção e lhe pede para explicar melhor, entenderá mais depois da explicação. Acho que foi o Nilton Lessa que observou isso um dia (não me lembro mais em que circunstâncias).
O entendimento de coisas como essas é meio imediato e tem mais a ver com o glance (o golpe de vista), com o blink (aquela “sacação” em um piscar de olhos) do que com uma explicação de outra pessoa. Diria mesmo que em tudo que é fundamental (porque vai nos fundamentos de um esquema interpretativo que justifica um modo-de-vida ou de convivência social) para distinguir um sistema explicativo de outro, isso se manifesta.
É o caso da distinção entre redes (mais distribuídas do que centralizadas) e hierarquia. Qualquer pessoa inteligente é capaz de compreender uma explicação sobre por que redes distribuídas são diferentes de hierarquias, mas nem sempre poderá ter um entendimento profundo do meaning (da extensão e da intenção) dessa distinção, porque o lugar onde está não permite isso: muitas vezes tal entendimento seria insuportável para um determinado modo-de-vida que já foi adotado (por exemplo, se essa pessoa dirige uma organização hierárquica ou está satisfeita em viver em obediência). Seria uma perturbação na trajetória de adaptações que uma pessoa vem fazendo para conservar uma identidade.
Tem coisas que, se a gente aceitar, desconstitui uma coerência que julgamos indispensável para continuar (como vinhamos). Por isso, quando alguém me pede para explicar melhor alguma dessas coisas e eu explico uma, duas, três vezes e a pessoa volta sempre ao mesmo ponto, dizendo que ainda não entendeu e pedindo mais explicações, sei que é inútil. Não é que ela não compreenda por alguma deficiência cognitiva ou insuficiência intelectual e sim que está resistindo a compreender – do seu modo mesmo, não do meu – para não alterar um movimento na sua linha de vida ou convivência que já foi desencadeado e se mantem meio inercialmente.
Mas aqui temos um ponto importante: a pessoa resiste a compreender não nos termos alheios (nos meus termos, se sou eu que estou sendo instado a explicar) e sim nos seus próprios termos, porque isso exige uma reinvenção (para não ser falso) do sentido da distinção a ser compreendida e uma integração desse novo sentido no arranjo de suas concepções pretéritas. É uma resistência a aprender, ou seja, não a apreender qualquer coisa do mundo e sim à mudar com o mundo.
É a isso que me refiro quando falo de entendimento profundo.
DEVEMOS MELHORAR OU MUDAR A EDUCAÇÃO?
Para saber isso vamos conhecer as principais críticas feitas por pensadores da educação e refletir se nossas atividades estão sintonizadas com a mudança que está vindo, em especial agora que a sociedade está ficando mais interativa e com a inteligência artificial que vai se encarregar de muitas das tarefas que sempre foram executadas por nós. Mais um motivo para tentar descobrir quais são as características de uma aprendizagem tipicamente humana, que nunca poderá ser realizada por máquinas ou programas inteligentes.
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