A maior descoberta da humanidade
Umas das descobertas mais apaixonantes com as quais me deparei foi o Simbionte Social. A primeira vez que me deparei com este conceito foi lendo os artigos de Augusto de Franco.
Com base nos estudos de complexidade e emergência que encontramos na Nova Ciência das Redes, ao observamos o social com estes novos olhos, acabamos percebendo padrões cujo comportamento podem revelar este novo tipo de simbionte. Sim, é uma hipótese. E como tal, tem um longo caminho ainda para ser decifrada, se é que será. Mas, de fato, existe.
O que não me deixa dúvidas é que, definitivamente, esta é a maior descoberta que a humanidade poderia fazer sobre si mesma.
É apaixonante pois uma das coisas que mais me emociona é poder vivenciar o simbionte social, uma vez que, paradoxalmente, é algo que está além de minha pessoa, ao mesmo tempo em que é a minha pessoa. Acredito que a vivenciação do simbionte social é o mais próximo que poderíamos atestar de uma espiritualidade genuinamente humana. Ou usando um termo que inventei para isso, é a espiritualidade antes de deus. No sentido de que antes desta criação nefasta da uma divindade patriarcal, guerreira, hierárquica, o que existia? Ou melhor ainda, o que existirá depois, uma vez que nos esgotamos destas divindades que não são as da convivência social, ou seja, humanas?
Esta experiência mística que nos transporta para algo muito maior, ao mesmo tempo em que, fractalmente, encontra-se plenamente na sua pessoa. O resultado é um empowerfulness, um empoderamento que, ainda, raramente experienciamos. Todas as pessoas são feitas de todas as outras pessoas.
Nós fluímos no simbionte nos enxameamentos de junho de 2013 no Brasil, quando sua voz dizia vocês não nos representam. Na na Praça Tahir em 2011 , que levou à queda do ditador Mubarak. Na praça Maidan, em 2014 em Kiev, que obrigaram o agente de Putin, Viktor Yanukovich a fugir do país. Nas ruas de Hong Kong em 2014 na Revolução dos Guarda-Chuvas. E também em festivais co-criativos como Burning Man, ou ainda, quando livremente podemos brincar, festejar, dançar, cantar, namorar, empreender, celebrar, compartilhar, doar e receber, aprender, ajudar… e há quanto tempo você não faz tudo isso, como aquela criança que já foi e talvez tenha se esquecido?
Acredito que existem dois entendimentos fundamentais para começarmos a vislumbrar o simbionte social. Primeiro, devemos mergulhar no estudo da complexidade, emergência, estudo de padrões, caos etc. Segundo, perceber que o humano – não o ente biológico que nos permite humanizarmos – é uma criação social, que ocorre na interação com outras pessoas. Daí, chegaremos no conceito de pessoa tal como utilizo aqui. Para usar uma bela expressão de Norbert Wiener, somos
remoinhos num rio de água sempre a correr.
Desde criança, existe algo que valorizo muito, a ponto de sacrificar qualquer coisa para isso: LIBERDADE. E não estou falando da minha liberdade individual, uma vez que minha liberdade está diretamente ligada com a liberdade do outro, ou estaria me iludindo.
Se existe um caminho para encontrar o simbionte social, é através do caminho da liberdade. Ela implica num percurso, principalmente, de imprevisibilidade. Talvez, se você caminhar no meio de estranhos e estar aberto ao outro-imprevisível, quem sabe não possa sentir um pouco deste fluxo ou FLUZZ que em plena liberdade esta transformando a pessoa.
Ao nos deixarmos mudar pelo outro, ao interagirmos livremente com o outro, podemos sentir um pouco do metabolismo deste simbionte social. São nestas condições que a emergência de uma inteligência coletiva (tão erroneamente entendida) e de uma emoção coletiva (idem) podem surgir.
Deste processo, descobrimos também a criação. Algo que também tenho uma afinidade íntima, uma vez que acabei fazendo design gráfico e trabalhando como criativo, depois de passar anos estudando arte e, depois, querendo entender como a mesma influencia o nosso comportamento.
Criação é sempre co-criação.
Nenhuma ideia surge do nada. Eu mesmo, por quantas vezes achei que tinha criado algo do zero… Hoje sou humilde o suficiente (e pude aprender) que não existe nada criado do nada. A ideia é sempre um clone de outras ideias, e é sempre original, sim, uma vez que ela é sempre diferente por estar sujeita a um processo variacional. A natureza evolui dessa maneira, não é?
Aqui chegamos em um processo que chamamos de cocriação interativa. Toda ideia é fruto da interação. E algo criativo emerge em condições de rede, ou seja, é imprevisível. E é este processo o que poderíamos chamar de uma aprendizagem tipicamente humana.
Assim, percebemos que toda aprendizagem tipicamente humana é social. E aqui, cito Augusto de Franco:
Aprender (humanamente) é despertar o ente criativo que existe no clone social chamado pessoa. Não é bem se adaptar responsivamente — como que por reflexo — à mudanças do mundo, mas se criar a cada instante recriando os mundos dos outros espelhados em nós, de sorte que cada qual possa dizer, como diria Leminski:
vejo as coisas como somos.
Temos investigado sobre a aprendizagem tipicamente humana. Se fez sentido pra você, nos acompanhe no HUMANA.SOCIAL.