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Imaginando o desenvolvimento (g)local no século 21

Pessoas criam o seu próprio mundo social, escolhendo e demarcando como território sua rua, sua quadra, seu conjunto habitacional, seu bairro, seu município ou qualquer outra socio-territorialidade de sua escolha (às vezes, nem mesmo uma territorialidade concreta).

Começam então a propor os seus desejos a outras pessoas, formando com elas comunidades de vizinhança – ou de aprendizagem, de projeto  ou de prática – a partir da aglomeração dos que têm os mesmos desejos ou desejos congruentes.

Na medida em que esses desejos são realizados na vida real, o novo mundo social configurado vai se transformando, para as pessoas envolvidas, no melhor lugar do mundo: porque elas vão gostando mais da sua localidade, vão ficando mais satisfeitas com sua própria vida ao viverem a sua convivência, vão aprendendo coisas novas e adquirindo mais habilidades e competências.

Consequentemente, a localidade vai se desenvolvendo: o ambiente vai ficando mais favorável aos empreendimentos sociais e empresariais, surgem novos projetos e novas oportunidades de negócios, aumenta o valor das empresas e de outras propriedades locais, espaços urbanos deprimidos são revitalizados e novas atitudes políticas democráticas ou pluriárquicas, de caráter público, são estimuladas.

As pessoas passam a se identificar com seu novo mundo (uma espécie de “país” social, não estatal) e a apostar e investir no seu futuro, a confiar mais nas outras pessoas e a colaborar com elas em prol da realização de seus sonhos individuais e coletivos.

E aí, ah!… e aí as pessoas de um “país” social descobrem que existem outros “países” semelhantes do seu lado (ou não: mas os mais distantes ficam tão próximos…) e começam a estabelecer conexões com as pessoas desses outros mundos, criando novos caminhos entre eles, de sorte que acabam virando a mesma rede e de repente tudo isso explode como uma ramada de neurônios quando a globalização do local encontra a localização do global e o local conectado se descobre como o mundo todo.

E essas coisas acontecem em ambientes lúdicos, de jogo e brincadeira, onde não são exigidos compromissos com tarefas repetitivas ou comparecimento a reuniões, vocação especial para o trabalho comunitário, para a benemerência ou a filantropia ou para o serviço público, nem se cobra das pessoas qualquer tipo de militância social ou alinhamento a ideais político-ideológicos de transformação da sociedade. Em vez de luta e sacrifício pelo bem-comum, as atividades assim realizadas ensejam a descoberta prazerosa de que é possível, sim, a qualquer pessoa comum, viver a sua vida social na linha do Samba da Bênção de Vinícius de Moraes:

É melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe, é assim como a luz no coração.